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Seria a profissão de tradutor autônomo a mais democrática?
Tenho idade suficiente para lembrar da vida sem Internet e correio eletrônico. Quando iniciei minha carreira como escritor e tradutor, eu usava máquinas de escrever manuais, e precisava recorrer, literalmente, ao corte e colagem para reorganizar frases e parágrafos. E eu tinha que entregar meus trabalhos "fisicamente" na forma de papel, faxes ou mensagens transmitidas por teletipo e telegramas; às vezes chegando a ter que comparecer aos escritórios de meus clientes e correspondentes! O motivo dessa aula de história ancestral é sua pertinência para fundamentar a tese deste artigo: no mercado de trabalho dos dias de hoje, altamente tecnológico e eletrônico, a profissão de tradutor autônomo talvez seja a mais democrática de todas. Através da inefável mágica dos e-mails, FTPs, grupos de trabalho virtuais, conexões de banda larga e tecnologia de ponta em telecomunicações, atualmente os tradutores autônomos têm o privilégio de poder trabalhar em praticamente qualquer lugar que desejarem. Além de não precisar interagir fisicamente com nenhum de seus clientes remotos. Eu já iniciei projetos de tradução no Rio de Janeiro, fiz a revisão em Nova Friburgo e, da fazenda da minha irmã, situada nas montanhas de Berkshire, no oeste de Massachusetts, enviei o resultado final para os clientes. Minha carteira de clientes tem cerca de 40 empresas em seis estados brasileiros, nos EUA e na Europa. Já falei pessoalmente com apenas cerca de metade deles (por telefone) e só vi - em carne e osso - alguns poucos. Ao contrário do que ocorria há dez anos, quase tudo é resolvido por e-mail: pedidos dos clientes, orçamentos, entrega de produtos. Basicamente, a menos que eu queira, meus clientes só sabem se sou homem ou mulher pelo meu nome. Todo o resto - todos os fatores discriminatórios - desaparece pelo filtro da interface eletrônica. Em termos pessoais, isso tem um significado interessante. Hoje, o tradutor autônomo profissional é julgado exclusiva e inteiramente pelo trabalho que produz, e não com base em sua raça, cor, sexo, religião, nacionalidade, idade ou deficiência física (fatores referentes aos quais as diretrizes de oportunidades iguais definidas pelo governo federal dos EUA procura oferecer proteção) ou até mesmo critérios menos importantes, porém reais, como gravidez, obesidade, traços de personalidade, caspa, tatuagens ou mau hálito. É uma revolução no mercado de trabalho internacional. E pode ser totalmente atribuída ao advento da Internet e do correio eletrônico. Imagine uma entrevista de trabalho em que só contassem as suas qualificações profissionais. Que a continuidade do seu sucesso no trabalho dependesse apenas da sua capacidade pessoal de atender às exigências pertinentes a cada projeto. Se você é jovem ou velho, preto ou branco, homem, mulher ou se tem outra preferência sexual não importa. Parece uma definição perfeita de um local de trabalho democrático, uma verdadeira meritocracia. Minha experiência mostra que o ambiente corporativo, mesmo no país mais democrático que conheço, os EUA, ainda apresenta muita discriminação. Vejam a seguir uma explicação daquilo que ocorre quando um processo por discriminação no trabalho chega aos tribunais, segundo David H. Greenberg. David é um advogado perito em discriminação nos EUA, porém o fato de que existem advogados especializados em discriminação já é uma boa indicação do estado incerto do mercado de trabalho nesse país: "Até o presente momento, os tribunais permitiram que empregadores discriminassem pessoas por terem cabelos compridos e barba (exceto quando essa opção é feita por motivos religiosos), peso (exceto quando o peso se deve a um distúrbio de saúde) e porque o empregador quer contratar ou promover alguém da família. Por lei, um empregador pode se recusar a contratá-lo por ser muito jovem, mas não por ser muito velho (com mais de 40 anos). Nenhuma dessas categorias é protegida. Em outras palavras, se a categoria de discriminação não estiver claramente disposta em um estatuto, o funcionário não está protegido contra essa forma de discriminação. Por isso, se o chefe não gostar de você, mas você não souber porque ou se a categoria não for protegida por lei, ele poderá demiti-lo ou deixar de contratá-lo por esse motivo." Mas isso não ocorre com o tradutor autônomo que sabe se virar na Internet. Você pode ter barba e mau hálito e, ainda assim, conseguirá trabalho. Se o chefe nem te conhece, não te demitirá. Você será julgado simplesmente pelo mérito do seu trabalho. Sendo assim, parabéns a todos os tradutores autônomos por terem escolhido aquela que pode ser considerada a profissão mais democrática do mundo. Agora, é claro, basta você ser tão bom quanto todos os outros tradutores virtuais... Mas isso é assunto para outra coluna. Steve Yolen é americano e mora no Rio de Janeiro. Ele trabalha como tradutor profissional desde 1994, embora como jornalista e correspondente estrangeiro no Brasil e na América do Sul ele tenha trabalhado com tradução em toda a sua carreira. Juntamente com Peter Warner, ele comanda o serviço em língua inglesa com qualidade final de publicação da Ccaps e toca na banda Copacabana Handshake, de música folk norte-americana.
This
article was originally published in Сcaps Newsletter
(http://www.ccaps.net)
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