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Risos e pesadelos na tradução de termos de petróleo
Como evitar pagar um mico ao traduzir “monkey board” e outras ciladas terminológicas do setor Os verbetes aqui empregados foram retirados de um dicionário de autoria própria, cuidadosamente compilado durante quase vinte anos de atividades na área de tradução, lançado em 2001. Trata-se de um processo dinâmico, infinito, como toda obra do gênero deve ser. Afinal os avanços tecnológicos nesta área não param. Embora o trabalho apresente um bom número de termos, não constitui uma lista completa de palavras e expressões sui generis que um observador seja passível de ouvir durante uma visita a um campo petrolífero. Todavia destina-se a servir como uma fonte básica para compreensão daquelas mais comuns. Seu objetivo é meramente beneficiar as pessoas que não tenham familiaridade com a linguagem da área de petróleo. Toda língua é dinâmica e passível de transformações. Tanto é que a nova edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, lançada em setembro de 1998, contém nada menos que cinco mil neologismos. Verbetes como deletar, printar e escanear, jargões típicos da área de informática, foram inseridos na obra. A língua inglesa não é diferente. Os americanos, especialmente, primam pela incrível fertilidade de imaginação ao criar anacronismos e neologismos. A área do petróleo é sem dúvida aquela que reúne a maior complexidade de tecnologias de diferentes setores, como engenharia, química, geologia, administração de empresas, contabilidade, direito, náutica, etc. Isto deu origem a uma verdadeira Torre de Babel. Para complicar ainda mais, empresas que atuam no setor desenvolveram terminologias próprias, derivadas do inglês, tornando a vida profissional de tradutores um verdadeiro martírio. Certas palavras e expressões empregadas na indústria petrolífera constituem exemplos típicos e divertidos desta afirmativa. O
humor e seus desafios Há inúmeros termos a bordo de uma sonda de perfuração que aludem animais, por exemplo. Tomemos doghouse. Todos nós sabemos que não são permitidos animais nas instalações marítimas, tampouco cães. Não estamos falando de uma casa de cachorro, como um leigo ficaria inclinado a traduzir. Trata-se apenas da “sala do sondador”. A mesa do torrista é chamada de monkey board e nada tem a ver com primatas. Fica localizada na torre, montada sobre uma abertura no casco do navio sonda ou plataforma semi-submersível, conhecida como moon pool. Mousehole pode assustar uma pessoa menos entendida, mas não representa uma ameaça à saúde. O “buraco do ratinho” consiste de uma abertura no convés de perfuração, onde se coloca temporariamente uma junta de tubo de perfuração para posterior adição à coluna. Muleshoe não se traduz como “ferradura”, mas sim como “luva de orientação”; já o termo pig pode ser mantido na forma original, embora sejam aceitas as traduções “raspa-tubos”, “separador de batelada” e “calibrador interno”, dependendo da aplicação. Temos ainda rabbit (bujão de limpeza), ram (gaveta), que faz parte do conjunto de válvulas de segurança do poço, ringworm (circular, como em “corrosão circular”), spider, cuja tradução é “aranha”, “adaptador de cunha” ou “elevador tipo cunha”, conforme a sua função, e wildcat (poço pioneiro). Os desafios não param por aí. Vamos aos nomes que julgaríamos como próprios, a começar por geronimo. Geronimo foi um famoso guerreiro Apache, cujos supostos poderes supernaturais conferiam-lhe invulnerabilidade a balas. Porém em petróleo trata-se de safety slide, ou “rampa de segurança”, para evacuação do torrista em caso de emergência. E quem já viu a “catarina”? Neste caso dá-se a situação inversa, pois o termo em inglês é um inofensivo traveling block. Go devil lembra um filme de terror, mas na realidade significa apenas “raspa-tubos” ou “bujão detonador”. Embora graveyard tour também pareça algo saído de um livro de Stephen King, nada mais é que o “turno da meia-noite”.
A propósito tour é pronunciado como tower, realçando ainda mais o toque fúnebre. Seguindo este tom, não poderia deixar de acrescentar também stabbing board, que consiste da “mesa de alinhamento de revestimento” ou “mesa auxiliar do torrista” e widow maker ou “passadiço de acesso”, a rampa entre a sonda e um tender. Roughneck não significa um problema dermatológico e sim “plataformista”, ou “braçal”. Suas funções incluem a utilização de um idiot stick, ou “pá”, o preparo de jar (“percursor”) — tubo com movimento telescópio que aplica golpes ascendentes ou descendentes para soltar uma ferramenta presa —, fish (peixe), conexão de sucker rod (haste de bombeio), entre várias outras. As
companhias de petróleo e de perfuração
visam tornar a vida a bordo de uma plataforma a mais
aprazível possível. Além de boa
alimentação, as instalações
marítimas geralmente oferecem sala de ginástica,
cinema e outras amenidades. Existe até stripper...
Mas cuidado! O termo não se refere a um número
de cabaré e sim a um “poço com
pouca lucratividade”. Já jug,
nipple chaser e thief — cujas
traduções literais são jarro
(ou “peito”, no sentido coloquial), caçador
de bico (de seio ou de mamadeira) e ladrão
— significam respectivamente “geofone”,
“procurador de equipamentos” e “coletor
de amostras”. Estes são apenas alguns
exemplos. Outros certamente existem e tantos mais
surgirão, como mero resultado do progresso. Márcia Buckley é tradutora freelancer desde 1978, tendo residido nos EUA em duas ocasiões Além de detentora de licenciatura em inglês, é associada da ATA e credenciada pela ABRATES nos idiomas inglês e português. Especializou-se em petróleo em geral, tendo publicado dois dicionários de terminologia técnica nesta área. Seus hobbies prediletos são golfe, vela e trabalho voluntário. This
article was originally published in Сcaps Newsletter
(http://www.ccaps.net)
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